Vieses Comportamentais

Os vieses comportamentais nada mais são do que atalhos mentais que nosso cérebro utiliza para a tomada de decisão, e isso é algo que fazemos o tempo todo ao longo de nossa vida, com isso nosso cérebro desenvolve maneiras de aperfeiçoar a tomada de decisão, com isso as heurísticas que nosso cérebro utiliza, agilizam e simplificam a percepção e a avaliação das informações que recebemos, porém, de outro lado ela simplificam enormemente a tarefa de tomada de decisão. 

Lembrando que todo mundo está propenso a utilizar os vieses comportamentais (que chamamos de heurísticas na tomada de decisão, ou seja, como regra geral, válida para todos os erros sistemáticos de julgamento/análise, aqui abordados, o primeiro passo para evitá-los é reconhecer que estamos sujeitos a eles ou, ainda, se dar conta de quando estamos incorrendo neles.

Ancoragem 

O viés da ancoragem acontece quando o investidor se detém apegado à uma determinada informação passada e isso faz com que tome decisões futuras. Exemplo: Quando o investidor visualiza o preço da ação X por R$100,00 e alguns dias depois vê o preço da ação Y por R$80,00 acredita que está valendo a pena por estar mais barato, mesmo se tratando de empresas de ramos diferentes. O contrário também pode acontecer quando o investidor visualiza que a ação atingiu um teto de R$50,00 e hoje se encontra por R$20,00 e faz a compra acreditando que o preço irá voltar para o mesmo valor, pois ficou ancorado no preço inicial. Outro exemplo, uma empresa Financeira X realizou um IPO em Janeiro de 2021 e suas ações foram de R$ 9,00, no IPO, para R$ 50,00 em Junho de 2021, em Julho de 2021 uma empresa do mesmo segmento realiza um IPO por R$ 9,00 e o investidor acredita que essa empresa chegará em R$ 50,00, por estar ancorado no valor da empresa Financeira X, sem considerar as informações necessárias para avaliar se a empresa tem chances de crescimento ou não.

Como evitar?

  • Prestar especial atenção a valores tomados como referência, verificando se têm fundamento sólido ou se são arbitrários;
  • Mantenha-se atualizado quanto aos valores tomados como base de comparação, como as taxas de câmbio, inflação e CDI, entre outras, a fim de evitar basear sua decisão em indicadores que não se aplicam ao cenário atual;
  • Questione suas premissas, certificando-se de que sejam realmente relevantes para a tomada de decisão e de que não sejam utilizadas apenas para suprir uma possível lacuna de informação;
  • Evite tomar decisões financeiras por impulso e sem informações suficientes, uma vez que, na falta de base racional, sua mente irá apelar para o que estiver mais facilmente à disposição, porém nem sempre a seu favor.

Aversão a perda

É um viés comportamental que faz o investidor atribuir maior importância às perdas do que aos ganhos, com isso induz a correr mais riscos no intuito de tentar reparar eventuais prejuízos.  Exemplo: O investidor que aplicou R$1.000,00 em ações, mas que, no decorrer do tempo, percebe que as mesmas ações começam a cair de preço e sem perspectiva de melhora futura, não irá se desfazer do investimento por conta da dor do prejuízo.

Outro efeito potencialmente prejudicial desse viés é liquidar precipitadamente as posições lucrativas e ainda promissoras, por receio de perder o que já foi ganho. Exemplo: O investidor aplicou R$ 10.000,00 nas ações da WXYZ3, teve um ganho de R$ 100,00 e já se desfaz dessa posição por medo de perder este dinheiro. 

Como evitar?

  • Evite conferir cotações com frequência excessiva, especialmente de investimentos de longo prazo, pois isso aumenta o grau de ansiedade e pode gerar uma falsa necessidade de tomar decisões a cada consulta;
  • Estabeleça uma estratégia de investimentos e tente manter-se nela, definindo os limites aceitáveis para prejuízos;
  • Antes de tentar melhorar o preço médio, ou seja, fazer novas compras para abaixar o custo médio de aquisição, avalie se a decisão é apenas um desejo de recuperar ou de evitar prejuízos;
  • Diversifique seus investimentos;
  • Evite tomar decisões financeiras sob pressão.

Heurística da Disponibilidade

O viés da disponibilidade trata-se de valorizar as informações mais recentes (mais disponíveis) como de maior valor, ou seja, o investidor toma ações baseadas na emoção com base em experiências pessoais ou acontecimentos recentes. Exemplo: O investidor vê que a empresa X distribuirá dividendo em um bom valor e por isso compra ações daquela companhia ou que funcionários do banco Y estavam envolvidos em algum roubo e por isso sacam todo dinheiro.

Como evitar?

  • Procure obter mais informações sobre o assunto envolvendo causas, consequências, histórico, entre outros;
  • Avalie os riscos antes de tomar qualquer decisão e os respectivos impactos.

Ilusão de controle ou Excesso de confiança

O investidor acredita ter controle sobre as mais diversas variáveis e por isso superestima a própria capacidade analítica, de julgamento e também de tomada de decisão. Um exemplo atualizado que podemos citar é sobre a COVID-19 que demonstra que haverá sempre um risco e que nenhum investidor possui controle sobre eventos externos.

Este viés, leva a pessoa a confiar excessivamente em seus próprios conhecimentos e opiniões, além de superestimar sua contribuição pessoal para a tomada de decisão, tendo a acreditar que sempre está certa em suas escolhas e atribuindo seus eventuais erros a fatores externos.

As pessoas utilizam este viés e não percebem isso, por exemplo, quando as pessoas depositam, em suas próprias crenças, dependendo mais da narrativa que é capaz de construir com os dados disponíveis, (por mais escassos e imprecisos que sejam) do que com a qualidade e a quantidade desses dados. Isso, podemos não perceber, mas tem uma forte tendência da mente humana de identificar padrões naquilo que é aleatório.

Um exemplo sobre essa heurística:

Giovanna, acredita que as ações da empresa WXYZ são um ótimo investimento "porque uma pesquisa revelou que 63% dos gestores de grandes fundos investem nessa empresa", é mais cômodo a Giovanna tomar essa informação como verdadeira e tomar uma decisão de investimento a partir daí do que procurar saber sobre a confiabilidade de tal pesquisa e do que pesquisar vários outros dados não mencionados na frase, mas que seriam indispensáveis para poder tomar uma decisão financeira consciente e informada.

Como evitar?

  • Tenha consciência de que o excesso de confiança é um viés real; 
  • Preze pela qualidade e confiabilidade das informações para que tenha uma assertividade na tomada de decisão e, certifique-se de que dispõe de todos os dados necessários e suficientes para a tomada de decisão;
  • Reconheça as próprias limitações e identifique os pontos de melhoria em suas estratégias;
  • Questione sua própria competência e discuta sua estratégia de investimento com pessoas de sua confiança e que são capazes de analisar este assunto, ou até mesmo, com profissionais isentos, que não possam se beneficiar das recomendações oferecidas;
  • Tome bastante cuidado, quando auferir muito lucro com determinada operação para a tomada de decisão, pois, normalmente, o excesso de autoconfiança normalmente chega com os lucros. Analise se o resultado positivo pode realmente ser atribuído a uma estratégia vencedora, que pode ser repetida no futuro, ou se isso foi fruto de valores fora do seu controle (um evento Macroeconômico, por exemplo).

Falácia do Jogador

Também conhecida como Falácia do Apostador ou Falácia de Monte Carlo, podemos citar o exemplo, de um jogo de "cara ou coroa", esse viés leva uma pessoa a acreditar que o fato de ter ocorrido "coroa" muitas vezes seguidas torna maior do que 50%, a probabilidade de sair "cara" na próxima vez que jogar a moeda. Este viés se origina de uma falha em compreender a noção de independência estatística e que nos faz "calcular" a probabilidade de um acontecimento com base na quantidade de vezes que ele já ocorreu. 

No mercado financeiro, podemos usar como exemplo a ação WXYZ3, a empresa valorizou 10% na semana 1, 8 % na semana 2 e 11% na semana 3, quando isso ocorre, algumas pessoas começam a sentir uma ansiedade que as impele a vender suas ações, por terem a sensação de que entrará em cena algum mecanismo de correção capaz de fazê-las cair em breve, sem que haja uma explicação racional para tal queda.

Por outro lado, há investidores  que decidem manter em carteira ativos cujo valor vem caindo seguidamente, sem se preocupar em compreender o motivo da desvalorização, simplesmente por acreditarem que algum processo aleatório fará o preço do ativo se desviar da direção oposta, passando a se valorizar. 

Como evitar?

  • Esteja sempre por dentro das notícias sobre o mercado financeiro e as informações disponibilizadas pela área de relações com investidores das companhias, pelos autorreguladores do mercado, pela CVM e pelos gestores de fundos de investimento, a fim de identificar se eventuais altas ou baixas têm fundamento sólido;
  • Lembre-se que ganhos passados não são garantia de rentabilidade futura e baseie sua decisão de investimento em informações relevantes e de qualidade, provenientes de fontes confiáveis.

Estratégia de Martingale

A estratégia de Martingale considera que em momentos de sucessivas perdas, o trader dobre sua aposta na expectativa de um movimento a seu favor que reverta os resultados e compense os prejuízos anteriores. Trata-se de uma tática de dimensionamento da posição que dobra a cada perda, com expectativa de quebra do ciclo de perdas e compensação de prejuízos de forma mais rápida.

Essa estratégia foi criada pelo matemático francês Paul Pierre Livy e teve sua origem no século XVIII. Muito usada no mundo dos cassinos, onde o jogador, ao se deparar com prejuízos, dobra sua aposta anterior na expectativa que o ganho potencializado compense as perdas.

Como evitar?

  • Controle a ânsia de revertes prejuízos. Aumentar sua posição numa operação perdedora pode amargar em altos prejuízos;
  • Avalie se vale a pena fazer preço médio em determinada posição e se você tem margem de garantia robusta para aguardar mais tempo no trade.

Explorando mais os conceitos

Como complemento deste artigo, sugerimos a leitura do livro "Rápido e Devagar" do autor Daniel Kahneman. Este livro relata duas formas de pensar e nos leva a uma viagem pela mente humana. O autor relata também todos os vieses que todos nós estamos sujeitos.

Esse artigo foi útil?